





A primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, respondeu publicamente, nesta segunda-feira (19), às críticas que sofreu após causar desconforto durante um jantar oficial com o presidente da China, Xi Jinping, na semana anterior. Em um discurso inflamado durante evento do Ministério dos Direitos Humanos, em Brasília, ela defendeu sua atitude e reforçou que continuará usando sua voz para denunciar os riscos das redes sociais para crianças e adolescentes. 3n212a
Durante o jantar em Pequim, organizado como parte da visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, Janja quebrou o protocolo ao pedir a palavra — o que não estava previsto — para criticar os algoritmos do TikTok, plataforma de origem chinesa, que segundo ela favoreceria conteúdos de extrema-direita. A atitude gerou desconforto entre os presentes e foi classificada como "constrangedora", segundo relataram os jornalistas Andréia Sadi e Valdo Cruz, do g1.
"Em nenhum momento eu calarei a minha voz para falar sobre isso. Em nenhum momento, em nenhuma oportunidade. Não há protocolo que me faça calar se eu tiver uma oportunidade de falar sobre isso com qualquer pessoa que seja, do maior grau ao menor grau", declarou, sob aplausos.
Logo no início do discurso, Janja ironizou a repercussão negativa do episódio diplomático:
"Eu fico feliz que vocês me convidaram e que eu vou poder falar, que eu não vou precisar ficar calada. O protocolo aqui me deixa falar, né, Macaé?", disse, dirigindo-se à ministra Macaé Evaristo (Direitos Humanos).
A primeira-dama aproveitou o palco para reiterar seu apoio à regulamentação das plataformas digitais no Brasil, pauta que enfrenta forte resistência no Congresso Nacional. Segundo ela, a atuação dessas empresas precisa ser revista diante dos riscos que impõem à infância e à juventude.
"As redes sociais, os jogos online, os grupos de mensagem, todos os espaços digitais fazem parte do cotidiano dos nossos filhos [...] e, como qualquer espaço, há riscos", alertou. "Violência virtual, bullying, aliciamento, o a conteúdos impróprios... tudo isso pode acontecer a qualquer momento."
Janja citou o caso trágico de uma menina de 8 anos que morreu após inalar desodorante aerossol, supostamente participando de um desafio proposto em uma rede social. Visivelmente abalada, ela usou o exemplo para reforçar a necessidade de ação do poder público:
"A gente precisa que as mães se unam numa voz forte que seja ouvida no Congresso Nacional para que efetivamente a regulamentação das plataformas aconteça", concluiu.
A fala de Janja reacende o debate sobre o papel institucional da primeira-dama e seus limites em eventos diplomáticos. Embora seja comum a participação em viagens e cerimônias, intervenções fora do protocolo são raras — especialmente em encontros com líderes de potências globais, como a China.
Ainda assim, Janja deixa claro que pretende ocupar esse espaço com protagonismo, especialmente em pautas sociais e ligadas à proteção de mulheres, crianças e adolescentes.
"Eu, como mulher, não ito que alguém me diga que eu tenho que ficar calada. Eu não me calarei quando for para proteger a vida das nossas crianças", reforçou.
Com declarações firmes e sem pedir desculpas pela quebra de protocolo, Janja mostra que, ao lado de Lula, pretende exercer um papel ativo no debate público — mesmo que isso incomode as regras da diplomacia tradicional.